O governo de Jair Bolsonaro (PSL), parlamentares,
empresários, o mercado financeiro e uma parcela da população em geral celebram
a aprovação da “reforma” da Previdência e a “economia” prevista de cerca de R$
1 trilhão nos próximos 10 anos. O que poucos sabem (e não dizem), e outros
tantos não sabem mesmo, é que valor similar é gasto pelo governo federal apenas
pagando juros para os bancos. É o que se chama de “remuneração da sobra de
caixa”. Dinheiro que os bancos, em vez de emprestarem ao cidadão em forma de
crédito, preferem emprestar para o Banco Central e serem remunerados sem correr
qualquer risco.
“Só o custo disso, em juros, nos últimos 10 anos, foi em
torno de R$ 1 trilhão. A mesma quantia que o governo está querendo tirar dos
aposentados, no mesmo período. Na verdade, se trata de tirar dos trabalhadores
aposentados para dar para os banqueiros”, explica Rodrigo Ávila, economista da
Auditoria Cidadã da Dívida, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio
Brasil Atual. O valor é uma fatia da dívida interna do Brasil, que gira em
torno de R$ 5 trilhões.
O economista diz ser uma “falácia” o argumento do governo e
dos defensores da “reforma” da Previdência de que há perda de recursos com as
aposentadorias e que esse dinheiro poderia ir, por exemplo, para a saúde. Ávila
explica que mais de 40% do orçamento do governo federal é destinado ao
pagamento de juros e amortização da dívida, enquanto que, para a Previdência,
somando o regime geral e o dos servidores públicos, o montante fica em torno de
26%.
No fim, diz o economista da Auditoria Cidadã da Dívida, tudo
não passa de fazer escolhas políticas. Durante a votação da “reforma” da
Previdência, os parlamentares excluíram a cobrança previdenciária de produtos
agrícolas exportados, beneficiando o agronegócio em R$ 83 bilhões. Em outro
exemplo, Rodrigo Ávila cita a Lei Kandir, que desde 1997 isenta de ICMS as
exportações de produtos primários, algo que já causou mais de R$ 300 bilhões de
prejuízos para estados e municípios.
E há ainda a não cobrança de imposto sobre as grandes
fortunas, além da não tributação de lucros e dividendos. “Se a gente pega só
esses dois ítens, daria mais de R$ 100 bilhões por ano, exatamente o mesmo que
o governo quer tirar dos aposentados e dos mais pobres (por ano). É uma escolha
política. Se tributasse só os mais ricos, aqueles que ganham mais de R$ 320 mil
por mês, conseguiria mais de R$ 100 bilhões por ano no imposto sobre grandes
fortunas e sobre distribuição de lucros e dividendos. Poderia se fazer isso, ao
invés de tirar R$ 1 trilhão dos mais pobres.”
Para ele, fazer economia em cima dos aposentados agravará
ainda mais a situação do Brasil. “A Previdência gira a economia. Se você tira
R$ 1 trilhão dos aposentados, que são aqueles que gastam toda a sua renda, você
vai jogar a economia numa crise maior ainda. As pessoas não vão ter dinheiro
pra comprar, pra consumir, vai cair a arrecadação e depois o governo vai querer
alegar novas reformas”, enfatiza.
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